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Museu do Neo-Realismo
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Curadoria de David Santos
Apesar do compromisso primeiro com a ideia de reportagem sobre o povo olvidado, o realismo social português apresentou na variante lírica da sua expressão pictórica uma característica complementar decisiva, cuja importância, presente desde a génese do movimento, induz o reconhecimento de um valor estrutural.
Se a esperança no cumprimento da matriz política marxista parecia alimentar uma prática artística que, por essa razão, muitos correram a classificar de menor, o certo é que as manifestações de criatividade do nosso neorrealismo refletem um inequívoco valor poético, exigindo hoje uma reavaliação do seu estatuto. No campo das artes plásticas, Rogério Ribeiro foi um dos maiores protagonistas dessa experiência lírica identificada com o neorrealismo. Despertar os sentidos e a consciência profunda da condição humana constituiu o desígnio do seu trabalho artístico, com os olhos postos na força social e na poesia que o povo também pode significar. Muitos anos mais tarde, o artista recordará o neorrealismo como “um momento muito raro da nossa história contemporânea, momento onde uma invasão de esperança calou fundo nos homens, no coração dos homens”.
Rogério Ribeiro legou-nos um exercício artístico indissociável das formas narrativas e simbólicas do neorrealismo, reinterpretando nas suas fases mais tardias muitos dos elementos temáticos, ideológicos e contemplativos desse realismo original. O que o norteou ao longo desse percurso foi, afinal, um compromisso assente na vida e no seu valor supremo, o humanismo, desocultando a sua expressão social e política em interação sensível com a manifestação dessa criatividade que associamos desde sempre à prática do desenho e da pintura. E o resultado desse desígnio mantém-se ainda hoje na força de testemunho, no assombro do real que as cores e as formas da arte alcançam quando nos lembram o rosto de um povo.